sábado, 20 de outubro de 2012

Polícia pede à Justiça para transferir atirador para hospital psiquiátrico

Ele está preso em SP por atirar e ferir três pessoas nesta quinta-feira (18).
Delegado alega que administrador corre risco de surtar novamente na cela.

A Polícia Civil de São Paulo pediu nesta sexta-feira (19) à Justiça, em caráter de urgência, a transferência de Fernando Behmer Cesar de Gouveia Buffolo para um hospital psiquiátrico. O administrador de empresas está preso provisoriamente desde quinta-feira (18) numa cela de uma delegacia na capital após atirar em seis pessoas, ferindo três delas, por recusar uma internação forçada para tratamento de esquizofrenia. Para a polícia, ele corre risco de ter um novo surto psicótico na cadeia.

Até as 18h, o juiz do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária (Dipo), no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste, não havia se manifestado sobre o pedido. Caso a decisão do magistrado não saia até a próxima segunda-feira (22), a polícia também deverá solicitar à Justiça a conversão da prisão provisória em preventiva, para que Buffolo fique preso até um eventual julgamento. Existe a possibilidade de que, na próxima semana, seja pedido ao juiz a realização de um exame de insanidade mental no administrador.
Um oficial de Justiça e um técnico em enfermagem, que acompanhavam dois enfermeiros e um advogado da família de Buffolo, foram baleados pelo homem de 33 anos. O grupo tinha ido à casa onde o administrador estava, na Aclimação, região central, cumprir o mandado de interdição judicial para ele, a pedido da mãe, a professora Leni Behmer Pinto Cesar, de 65 anos.
Uma psicóloga, amiga do rapaz e dona da residência onde ele ficou hospedado, também foi atingida. O atirador ainda disparou contra três policiais militares, que foram chamados posteriormente por vizinhos e cercaram o imóvel. A Polícia Militar negociou a rendição dele, que se entregou após mais de nove horas.
Estado de saúde
O oficial de Justiça Marcelo Ribeiro de Barros, de 49 anos, teve o pulmão perfurado e está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Bandeirante. Segundo o centro médico, seu estado de saúde era estável nesta sexta. Por conta do ferimento, os médicos colocaram um dreno e monitoravam sua pressão.

O auxiliar de enfermagem Márcio Teles Lima, de 27, acabou ferido no rosto, teve fraturas na face, e foi levado para a UTI do Hospital Alvorada, em Moema, na Zona Sul. Segundo o boletim médico, ele está consciente e seu quadro de saúde é estável. Não há previsão de alta.

A psicóloga Sylvia Helena Gomes Cardim Moreira Guerra, 45, alvo acidental dos disparos, foi baleada no rosto e fraturou o maxilar e está no Hospital São Camilo, na Pompeia, Zona Oeste. Atendendo a um pedido da família, a unidade hospitalar deixou de divulgar o estado de saúde da mulher. Na noite de quinta, seu estado de saúde era estável.
Tentativas de homicídio
Buffolo foi indiciado pelo delegado José Gonzaga Pereira Marques, titular do 6º Distrito Policial, no Cambuci, onde o caso foi registrado, por seis tentativas de homicídio.
Atirador fere três na Liberdade (Foto: Arte/G1)
O administrador está detido com demais presos numa cela no 31º DP, na Vila Carrão, na Zona Leste, por ter curso superior. Apesar disso, a autoridade policial afirmou nesta sexta que pediu a transferência do preso para uma unidade de tratamento psiquiátrico porque tem receio de que ele volte a apresentar os mesmos sintomas dentro da cadeia, pondo em risco a sua vida e dos outros presos.
“Diante do risco de um novo surto psicótico, pedi à Justiça para transferi-lo para um hospital psiquiátrico na capital. Não sugeri nenhum nome de hospital, mas pedi que fosse uma unidade psiquiátrica que tenha condições de cuidar dele. Até porque há uma decisão judicial baseada em laudos médicos de que ele é portador de esquizofrenia. A esquizofrenia é um fator criminológico que pode desencadear um surto como o que ocorreu na quinta, colocando a vida dele e dos demais presos em risco”, afirmou o delegado José Marques.
Na próxima semana, o delegado deverá pedir à Justiça a prisão preventiva de Buffolo e um exame que possa comprovar a insanidade mental dele. “Se ficar comprovado, por meio de médicos e peritos nomeados pelo judiciário, que o rapaz é inimputável, ou seja, que não responde criminalmente por seus atos, ele não poderá ser condenado pelas tentativas de homicídio que praticou. Em vez da pena, a Justiça aplicaria uma medida de segurança, que inclui a possibilidade de internação para tratamento psiquiátrico”, explicou José Marques.
ArmasNa quinta, Buffolo teria usado uma pistola 380 mm e uma espingarda calibre 12 para atirar contra o oficial, os enfermeiros, a psicóloga e os policiais militares. O escudo de um dos PMs foi atingido por um disparo.
Segundo a polícia, o administrador possui cinco armas registradas em seu nome. Todo armamento está regularizado. Três dessas armas, incluindo um revólver 38, foram apreendidas na casa da psicóloga e os investigadores do 6º DP procuram outras duas: uma escopeta 44 e um revólver 32. Também foram encontradas no imóvel 130 munições, revistas de tiro, e 15 armas brancas do administrador: facas, sendo uma de lâmina dupla, duas espadas marciais e uma foice. Foram achados ainda um estilingue profissional, um soco inglês e um cassetete que dá choques elétricos. A residência da psicóloga possui pelo menos quatro câmeras de monitoramento de vigilância.
Armas encontradas na casa onde Fernando Gouveia estava (Foto: Marcelo Mora/G1) 
Armas encontradas na casa onde Fernando
Buffolo estava (Foto: Marcelo Mora/G1)
A Polícia Federal informou que o Buffolo registrou as armas em São Paulo e no Paraná. Ele aproveitou a época da anistia do governo federal para legalizar a armamento. Para fazer o registro precisou apenas apresentar o CPF, RG e comprovante de residência.
Procurado pelo G1 para comentar o assunto, Bene Barbosa, presidente do Movimento Viva Brasil, ONG favorável ao cidadão ter a opção de possuir uma arma para se defender contra criminosos, afirmou que o registro das armas permite a posse delas, mas não o porte. “É possível deixá-las em casa, mas não sair na rua com elas”, disse Barbosa.

Segundo o Viva Brasil, a anistia para regularizar as armas no país, que durou até o final de 2010, ainda é criticada por especialistas porque não exigia a aptidão psicológica para se ter uma arma em casa. “Atualmente, para se comprar uma arma é necessário ter um laudo psicológico fornecido por psicólogos credenciados pela Polícia Federal. A anistia funcionou mais para a PF saber onde as armas estavam e não para saber se os donos dela tinham condições de tê-las em casa. Muita gente maluca pode ter arma em casa e ninguém está sabendo disso”, explicou o presidente da ONG.
Legítima defesa
Durante a sua transferência do 6º DP para o 31º DP, Buffolo chegou a dizer a jornalistas que agiu em legítima defesa quando efetuou os disparos na quinta. “[Foi em] legítima defesa. Eles entraram na casa sem se identificar como oficial de Justiça, entraram como serviço de manutenção e agrediram a Sylvia, que é a pessoa que estava na casa”, afirmou o administrador à equipe de reportagem do Bom Dia São Paulo.
O advogado da família, que estava com o grupo que pretendia fazer a internação, apresenta uma versão diferente. "O oficial de Justiça toca a campainha, a senhora Sylvia atende a porta, ele diz ser oficial de Justiça e pergunta pelo Fernando. Ela primeiramente nega a presença do Fernando no local", disse José Cociolito. Segundo o defensor, após insistência, a mulher começou a gritar. "[Ela] pega o mandado na mão e diz que o mandado é falso, diz que não há nenhuma assinatura de juiz ali e que de lá ninguém vai tirar o Fernando."
Cociolito acrescenta que, logo depois, o suspeito apareceu por trás da psicóloga e atirou "a esmo, sem mirar ninguém".

Fonte: G1